O que deve conter em um plano de transição climática? 

Publicado em 17 de dezembro de 2025 

Com o avanço das mudanças climáticas e o fortalecimento das exigências regulatórias, financeiras e de mercado, os planos de transição climática tornaram-se instrumentos centrais para empresas que desejam se manter competitivas em uma economia de baixo carbono. Mais do que um documento estratégico, esses planos orientam decisões de negócio, investimentos, governança e posicionamento de longo prazo. 

O que é um plano de transição climática? 

Um plano de transição climática é um plano de ação estratégico que descreve como uma organização irá adaptar seu modelo de negócios, suas operações e sua estratégia financeira para se alinhar a um cenário de emissões líquidas zero. Esse alinhamento envolve a definição de metas claras e mensuráveis — como a redução de emissões até 2030 e 2050, por exemplo — acompanhadas de ações concretas, marcos intermediários e mecanismos de acompanhamento. 

Além da mitigação das emissões, um plano de transição também considera a adaptação aos impactos das mudanças climáticas ao negócio, garantindo que a empresa permaneça resiliente, competitiva e financeiramente sustentável em um contexto de riscos climáticos crescentes. 

Os pilares de um plano de transição climática 

Um plano de transição robusto, geralmente, costuma se estruturar a partir de três dimensões complementares: 

  • Mitigação, com foco na redução das emissões de gases de efeito estufa por meio de eficiência energética, uso de energias renováveis, inovação tecnológica e mudanças em processos e produtos, incluindo a cadeia de valor. 
  • Adaptação, voltada à preparação da empresa para lidar com os riscos físicos das mudanças climáticas, como eventos climáticos extremos, impactos na cadeia de suprimentos e a necessidade de infraestrutura resiliente, além dos riscos de transição, incluindo a adaptação a exigências regulatórias.  
  • Perspectiva social e transição justa, que busca garantir que a transição considere impactos sobre trabalhadores, comunidades e demais partes interessadas, promovendo inclusão, capacitação e diálogo. 

Essas dimensões permitem que a transição climática seja abordada de forma integrada, estratégica e sustentável. 

O que deve conter em um plano de transição climática? 

Para que seja considerado credível, um plano de transição climática precisa ir além de intenções e compromissos genéricos. De forma prática, ele deve conter, no mínimo, os seguintes elementos: 

1. Diagnóstico de emissões e linha de base 

O ponto de partida do plano é o entendimento do perfil de emissões da organização, a partir de um inventário de gases de efeito estufa que inclua, sempre que possível, os escopos 1, 2 e 3. Esse diagnóstico permite identificar as principais fontes emissoras, os chamados hotspots, e definir um ano-base para acompanhamento da evolução das emissões ao longo do tempo. 

2. Metas climáticas claras e alinhadas à ciência 

Um plano de transição deve apresentar metas de curto, médio e longo prazo, preferencialmente alinhadas a trajetórias científicas compatíveis com o limite de aquecimento global de 1,5 °C. Essas metas podem ser absolutas ou de intensidade e, idealmente, alinhadas a iniciativas reconhecidas, como a Science Based Targets initiative (SBTi). 

3. Plano de ação com medidas concretas 

As metas precisam ser acompanhadas de um plano de ação detalhado, que descreva quais medidas serão adotadas para reduzir as emissões. Isso inclui ações como eficiência energética, substituição de combustíveis, contratação de energia renovável, engajamento de fornecedores, inovação em produtos e serviços, além de prazos, responsáveis internos e marcos intermediários. O plano de ação deve ser monitorado e revisado periodicamente. 

4. Integração com o planejamento financeiro 

Um plano de transição climática eficaz deve estar integrado ao planejamento financeiro da empresa. Isso envolve a avaliação de investimentos necessários (capex), impactos operacionais (opex), análise de viabilidade econômica e consideração dos efeitos financeiros da transição, como custos, economias, riscos e oportunidades. 

Esse elemento ganhou ainda mais relevância com a publicação da IFRS S2 – Climate-related Disclosures, que exige que as organizações expliquem como seus planos de transição climática estão incorporados à estratégia, ao modelo de negócios e às decisões financeiras. 

5. Gestão de riscos e oportunidades climáticas 

O plano deve incorporar a identificação e avaliação de riscos climáticos físicos e de transição, bem como oportunidades associadas à economia de baixo carbono. Análises de cenários climáticos ajudam a compreender como diferentes trajetórias podem impactar o negócio e apoiar decisões estratégicas. 

De acordo com a IFRS S2, as empresas devem divulgar como esses riscos e oportunidades afetam suas perspectivas financeiras no curto, médio e longo prazo, reforçando a importância de planos de transição robustos e baseados em evidências. 

6. Governança, métricas e monitoramento 

É essencial definir claramente as responsabilidades pela implementação do plano, bem como os indicadores de desempenho (KPIs) que serão utilizados para acompanhar o progresso. O plano deve prever mecanismos de monitoramento, reporte e revisão periódica, garantindo transparência e melhoria contínua. 

A IFRS S2 reforça esse ponto ao exigir divulgações claras sobre governança climática, métricas, metas e acompanhamento do desempenho em relação às trajetórias de transição. 

Planejamento de transição como processo contínuo 

O planejamento de transição climática não é um exercício pontual, mas um processo plurianual de gestão da mudança. Ele começa quando os objetivos climáticos são incorporados à estratégia corporativa e aos planos operacionais, e evolui conforme novas informações, tecnologias e exigências regulatórias surgem. 

Esse entendimento está alinhado tanto às recomendações da TCFD quanto aos novos padrões do ISSB, que tratam o plano de transição como um elemento dinâmico, sujeito a revisões periódicas. 

O “padrão ouro” e a convergência de frameworks 

Atualmente, o framework da Transition Plan Taskforce (TPT), do Reino Unido, é amplamente reconhecido como referência para planos de transição climática. Ele se baseia em três princípios orientadores: Ambição, Ação e Responsabilidade

Além disso, observa-se uma forte convergência entre frameworks como TPT, TCFD, SBTi, CDP e IFRS S2, o que facilita a construção de planos de transição consistentes, comparáveis e alinhados às expectativas de investidores, reguladores e demais partes interessadas. 

Benefícios de um plano de transição climática 

Ter um plano de transição climática bem estruturado é cada vez mais importante para o acesso a capital, o atendimento a exigências regulatórias e a construção de vantagem competitiva. Esse planejamento fortalece a resiliência da empresa, reduz o impacto dos riscos associados às mudanças climáticas, melhora o controle da cadeia de suprimentos e facilita o acesso a financiamentos sustentáveis. 

Além disso, empresas que se alinham à IFRS S2 tendem a melhorar a qualidade de suas divulgações climáticas, aumentando a confiança do mercado e reduzindo riscos legais e reputacionais. 

O papel dos créditos de carbono nos planos de transição climática 

Dentro de um plano de transição climática abrangente, os créditos de carbono desempenham um papel complementar, e não substitutivo. Eles devem ser utilizados de forma estratégica, apenas após a implementação de reduções internas significativas de emissões. 

Seguindo a hierarquia de mitigação, a lógica é “reduzir primeiro, compensar depois”. Créditos de alta qualidade — reais, mensurados, verificados de forma independente e registrados publicamente — podem ser utilizados para compensar emissões residuais, especialmente aquelas com ausência de tecnologias para mitigação. Ao longo do tempo, planos de transição robustos tendem a evoluir do uso de créditos de evitação para créditos de remoção de carbono, alinhando-se a trajetórias sólidas de emissões líquidas zero. 

Referências: 

World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)  – Moving transition from plans to action: A transition planning primer, 2024 

KPMG – Climate transition planning: A blueprint for business resilience and growth, 2025 

Climate Policy Initiative  – What Makes a Transition Plan Credible? Considerations for financial institutions, 2022 

South Pole – Carbon credits explained 

 

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