O setor de fertilizantes no Brasil é uma fonte significativa de emissões de gases de efeito estufa (GEE), especialmente devido ao uso intensivo de fertilizantes nitrogenados sintéticos, como a ureia. Esses fertilizantes, ao serem aplicados no solo, liberam óxido nitroso (N₂O), um gás com potencial de aquecimento global cerca de 298 vezes superior ao do dióxido de carbono (CO₂). Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o uso de fertilizantes sintéticos está entre as principais fontes de emissões no setor agropecuário brasileiro, e vem crescendo nos últimos anos.
Além das emissões diretas no campo, a produção industrial desses fertilizantes também contribui para as emissões de GEE, devido ao consumo de energia e à queima de combustíveis fósseis. O transporte e a distribuição dos fertilizantes, muitas vezes realizados por meio de modais com alta intensidade de carbono, como caminhões a diesel, adicionam emissões indiretas ao ciclo de vida desses produtos.
O crescimento do uso de fertilizantes nitrogenados no Brasil tem sido mais acentuado do que a expansão da área plantada, indicando uma intensificação do uso desses insumos por hectare cultivado. Essa tendência reforça a necessidade de estratégias para mitigar as emissões associadas ao setor. As principais fontes de emissão variam conforme a cadeia de valor do setor e estão distribuídas pelos três escopos do GHG Protocol (Escopo 1, 2 e 3).
- Escopo 1 (Emissões Diretas):
- Combustão estacionária: Se a empresa estiver envolvida na produção direta dos fertilizantes, especialmente amônia e ureia, utiliza grandes volumes de gás natural, o que gera emissões de CO₂ na reforma do metano (processo Haber-Bosch); Queima de Óleo diesel em caldeiras e secadores de fertilizantes;
- Emissões de processos industriais: Emissões relacionadas ao processo industrial na produção de ácido nítrico e na reação de rocha fosfática com ácido, há emissão de óxido nitroso (N₂O), um GEE muito mais potente que o CO₂.; Reação de rocha fosfática (carbonatos) com ácido, que gera CO₂.
- Combustão móvel: Diesel em caminhões de mineração (Caso façam a extração); frotas internas de distribuição; tratores e pá-carregadeiras em fábricas
- Emissões Fugitivas: Vazamentos de gás natural (CH₄) em unidades de amônia; emissões difusas de CO₂ em processos internos da empresa; perda de gases refrigerantes (HFC) em escritórios/plantas.
- Escopo 2 (Emissões Indiretas de Energia):
- A eletricidade consumida nas fábricas, minas e escritórios é uma fonte significativa de emissões, especialmente se a energia vier de fontes não renováveis. Algumas unidades operacionais já fazem o uso de energia renováveis em produção própria, dentro da unidade (eólica e solar).
- Escopo 3 (Outras Emissões Indiretas):
- Cat. 1 – Bens e serviços adquiridos (Upstream): Importação de ureia, amônia, nitratos etc., com emissões embutidas da fabricação no exterior, compra de ácido fosfórico de terceiros; sacarias plásticas. Essa é a maior parcela p/ misturadoras.
- Cat. 4 – Transporte e distribuição upstream (Upstream): Embarque marítimo de fertilizantes importados (queima de combustível em navios); transporte interno de matérias-primas do porto para fábricas (caminhões, trens).
- Cat. 9 – Transporte e distribuição downstream (Downstream): Entrega de fertilizantes das fábricas/portos até cooperativas e fazendas via transportadoras (caminhões); distribuição regional por terceiros.
- Cat. 11 – Uso de produtos vendidos (Downstream): Aplicação de fertilizantes nitrogenados liberando N₂O no solo (processos de nitrificação/desnitrificação); emissão de CO₂ na hidrólise da ureia aplicada; emissões indiretas associadas ao manejo pós-adubação.
- Cat. 12 – Tratamento de fim de vida de produtos vendidos (Downstream): Sacos plásticos de 50 kg ou big-bags de 1 t usados para entregar fertilizantes, após uso podem ser queimados indevidamente (emitindo CO₂ fóssil) ou dispostos em aterro. Embora de impacto menor, muitas empresas já adotam os sacos retornáveis e reciclados.
O setor de fertilizantes enfrenta o desafio de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, geradas tanto na fabricação industrial quanto no uso de seus produtos nas lavouras. A fabricação de fertilizantes consome muita energia e libera CO2, enquanto sua aplicação no solo pode gerar GEE ainda mais potentes, como o óxido nitroso (muito mais potente que o próprio CO2). Felizmente, já existem caminhos viáveis para diminuir essas emissões. Inovações tecnológicas e práticas mais sustentáveis já permitem tanto fabricar fertilizantes de forma mais limpa quanto utilizar esses produtos de maneira mais eficiente, reduzindo significativamente o impacto climático do setor. A seguir, serão apresentados exemplos concretos dessas oportunidades de redução de emissões, abrangendo desde melhorias no processo industrial até técnicas agrícolas que evitam desperdícios e emissões desnecessárias.
Oportunidades de Redução de Emissões:
- Escopo 1:
- Melhoria de eficiência energética: Investir em processos mais eficientes e na cogeração de energia pode reduzir o consumo de combustível fóssil nas plantas;
- Melhoria no uso dos combustíveis: Ampliar o uso de biocombustíveis nos veículos e empilhadeiras da empresa, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e as emissões de gases de efeito estufa.
- Tecnologias de captura de N₂O: O uso de catalisadores nas plantas de ácido nítrico pode reduzir as emissões de N₂O em até 90%;
- Transição para hidrogênio verde: Apesar de ser um investimento caro, substituir o gás natural por hidrogênio verde na produção de amônia pode eliminar quase completamente as emissões de CO₂.
- Escopo 2:
- Uso de energia renovável: A contratação de energia renovável (eólica e solar) para as operações industriais pode reduzir as emissões indiretas de eletricidade.
- Geração de energia própria: Investir em geração própria de energia, como painéis solares nas instalações, também contribui para a descarbonização.
- Escopo 3:
- Incentivar a produção local: Aumentar a produção interna de fertilizantes com menor pegada de carbono pode reduzir as emissões associadas à importação de insumos (considerando todo o transporte de importação + transporte local)
- Uso de fertilizantes mais eficientes: Aumento na produção de fertilizantes de liberação controlada e com inibidores de nitrificação podem reduzir significativamente as emissões de N₂O no uso agrícola. Tivemos um case de uma empresa que utilizou fertilizantes de liberação controlada e reduziram as emissões em ~20% de um ano ao outro (Coruripe)
- Boas práticas agrícolas em toda a cadeia de valor: Capacitar os agricultores e compradores a aplicarem fertilizantes de forma eficiente, evitando excessos, é uma forma de reduzir as emissões associadas ao uso no campo.
Com a implementação de tecnologias mais limpas e práticas agrícolas mais eficientes, o setor de fertilizantes pode reduzir significativamente sua pegada de carbono, alinhando-se aos objetivos climáticos.